Em 2010, segundo IBGE, a Capital possuía 711,4 mil unidades
habitadas. Atualmente, esse número chegou a 1,2 mi
Aconteceu tudo em tempo recorde. Como num abrir e fechar de
olhos. Fortaleza cresceu para todos os lados. Com a quinta maior população do
Brasil, a capital cearense apresenta atualmente uma paisagem diferente para
quem, como a economista Juliana Ferraz, regressa à terra natal depois de passar
os últimos três anos fora. "Fiquei admirada de observar tanta mudança. São
obras para onde a gente anda, de casas, apartamentos, de infraestrutura. Penso:
minha Fortaleza virou uma metrópole", afirma.
Esse aspecto abre um leque de discussões presentes em uma
série de reportagens que será publicada no Diário do Nordeste, ao longo da
semana, revelando uma Capital de diferentes cenários e desafios no setor
imobiliário. Além de avanços em prédios, os textos abordam o que ainda há de
histórico nas ruas de Fortaleza, os imóveis subutilizados e alternativas para a
construção de uma cidade sustentável.
A transformação da cidade no setor imobiliário é confirmada
pelos números. De acordo com dados do Sindicato da Indústria da Construção
Civil do Ceará (Sinduscon) e Conselho Federal de Corretores de Imóveis
(Cofeci/CE), entre 2010 e agosto de 2013, o total de imóveis pulou de 711,4 mil
para 1,2 milhão. Um aumento de 70% na comparação do período.
"O aumento populacional, aliada à melhoria do poder
econômico, inclusive da classe C, pressionam a demanda por moradia",
avalia o presidente do Cofeci/CE, Armando Cavalcante. Segundo ele, a retomada
do crescimento de um país como o Brasil com déficit crônico de habitações,
conduz naturalmente os investimentos para a área imobiliária. Principalmente
quando a oferta de crédito barato e de longo prazo viabiliza o acesso à casa
própria a todas as classes econômicas. "A tendência é continuar
crescendo", aposta ele.
E Armando tem razão. Destaque no Produto Interno Bruto (PIB)
brasileiro do segundo trimestre deste ano com alta de 3,8% em comparação com o
trimestre anterior, a construção civil vai de vento em popa.
Entre os bairros com maior evolução imobiliária, destaque
para Guararapes, Cocó, Luciano Cavalcante e Lagoa Redonda. O professor da
Universidade Federal do Ceará (UFC), José Borzacchiello, esse crescimento é
resultado do maior estoque de terras nesse setor da cidade. "Era
praticamente tudo descampado", lembra. Por outro lado, analisa, trata-se
de uma área estruturada ao longo de um dos corredores de atividade mais
importante de Fortaleza que é a Avenida Washington Soares. "Ademais,
localizam-se também nesse setor grandes equipamentos comerciais como shoppings
centers, universidades, fórum e colégios", salienta.
O vice-presidente do Sinduscon, André Montenegro, frisa que
a exigência da demanda, obriga o poder público a levar infraestrutura para
regiões antes "ignoradas". "Além disso, as construtoras seguem a
tendência da sustentabilidade, com prédios e condomínios com energia solar ou
eólica, reuso da água, e calçadas verdes, em sintonia com o meio
ambiente", pontua.
Fortaleza possui a maior densidade
Em Fortaleza, sobram habitantes. Falta espaço. É a Capital
mais adensada do País, com 7.769 pessoas por km². Por esta razão, a busca por
áreas mais amenas, longe de congestionamentos do trânsito e melhor qualidade de
vida, fez com que bairros como a Lagoa Redonda, se transformassem em
"vedetes" do mercado imobiliário.
O bairro em questão, por exemplo, agrega o clima interiorano
com a proximidade de um corredor comercial em forte expansão como a Avenida
Washington Soares. Na área, a tendência é de casas em condomínios fechados e de
alto padrão. Ali, o valor do imóvel custa em torno de R$ 1 milhão. "Em
locais assim, antes sem nenhuma infraestrutura, a pressão por melhorias como
asfalto, saneamento e transportes acaba por levar uma vida melhor para
todos", assevera André Montenegro.
A procura por moradia também é grande em locais como
Maraponga, Mondubim, Siqueira e José Walter. André contabiliza que 80% das
obras em andamento na Capital se direcionam para a classe C. "Nessas
áreas, o valor fica em torno entre R$ 200 mil e R$ 300 mil, custo bastante
atraente para quem ascendeu de classe social e quer mais conforto para a
família", atesta ele.
Comércio
Para o presidente do Conselho Regional de Engenharia e
Agronomia do Ceará (Crea/CE), Victor Frota, o comércio é ponto forte para quem
avalia a compra de um imóvel. Segundo ele, o setor potencializou o rápido
crescimento da Aldeota e Meireles.
O professor José Borzacchiello concorda e diz que ocorre
processo semelhante com a região da Grande Água Fria, Parangaba e Messejana.
No seu entender, alguns corredores de atividade e de
adensamento atraem novos comerciantes, escritórios e gabinetes, bem como
serviços mais especializados. É o caso das Avenidas Bezerra de Menezes e
Washington Soares. No caso da Avenida Gomes de Matos, no Montese, a maior
atração se dá em função da atividade comercial e de serviços. "Trata-se de
área extremamente dinâmica e competitiva para esses setores", conclui.
Entrevista com Águeda Muniz*
"Faltam regras claras sobre licença ambiental"
Nos últimos dez anos, bairros como o Cocó, Luciano
Cavalcante, Salinas, Guararapes, José de Alencar e Lagoa Redonda registraram
crescimento na demanda por imóveis acima de 50%. As questões ligadas ao meio
ambiente estão sendo respeitadas? O que falta?
Claro que sim. O processo de licenciamento ambiental é o
primeiro procedimento para garantir que os impactos dos
empreendimentos/atividades sejam mitigados. Contudo, faltam regras claras e é
isto que a Seuma desde janeiro, vem tentando construir a partir de um projeto
de lei a ser enviado à Câmara Municipal ainda neste semestre que trata do
processo de licenciamento ambiental.
Alguns setores da cidade criticam a gestão municipal por
entender que o setor imobiliário "pauta" o crescimento de Fortaleza,
passando por cima, muitas vezes, da legislação ambiental. Como avalia essa
afirmação?
A indústria da construção civil é a maior indústria da
cidade de Fortaleza. Direta e indiretamente representa bastante em nossa
economia. As oportunidades dela advindas são relevantes, no entanto, não são
mais importantes que o meio ambiente. O processo de licenciamento ambiental é
muito rigoroso e caso o empreendimento não for devidamente licenciado poderá
haver até ação demolitória.
*Titular da Secretaria de Urbanismo e Meio Ambiente de Fortaleza
(Seuma)
Por Lêda Gonçalves
Fonte: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1313259